Acabo de entrar na sacada da minha casa de praia, após um
sono reparador e prologado. Além, muito além do azul do mar, descortina-se a
linha imaginária do horizonte, onde as nuvens parecem acariciar-se nas águas.
Pertinho, bem pertinho de mim, vem uma onda enrodilhada em
si mesma, depois outra, mais outra esbranquiçadas, revoltas, enfim muitas ondas
espumantes jogando-se sobre a areia. De repente, cobrem toda a praia, invadem o
local dos banhistas, a guarita dos salva-vidas e, apenas, param, quando lambem
as dunas. Do terraço da minha casa, eu as aprecio, assisto à voracidade das
águas revoltas, vejo o susto dos banhistas, o olhar atônito das salva-vidas, a
mansidão das dunas acolhendo a água.
O que acontece? Teria uma tempestade no mar trazido toda
esta agitação? Mal acabo de sair da minha cama quentinha, depois de uma noite
agradável. Ainda nem tirei o roupão. A preguiça impede-me de raciocinar com
clareza. Emoção e imaginação dominam-me.
De súbito, uma estrela gigante, dourada, cai na sacada,
próxima do local onde estou. O sol bate nela e quase me ofusca a visão.
- Que é isso? - grito, assustada. - Estou a ver estrelas em
plena manhã de sol? E estas ondas que revoluteiam? Será que é um
fenômeno da natureza? Será que nosso Sol soltou uma fagulha que mexeu com os
oceanos e desprendeu estrelas? Será que acontece o fim do mundo? Ou sou
eu que estou ficando maluca?
Neste momento, ouço uma voz infantil:
- Tia... olho para o lado da voz, e vejo um menino de olhar
tímido, sorrindo desajeitado... posso pegar a minha estrela?
Volto à realidade. Tia... tia... não é nenhum fenômeno da
natureza, nem estou maluca. Um menino jogou com muita força um brinquedinho que
caiu na minha sacada e o mar, hoje, "não está pra peixe".
Liti Belinha Rheinheimer
Imagem: Google
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