O ribombar do trovão confundia-se com o grito da mulher em dores de parto . O silêncio que se seguia foi quebrado pelo choro do recém-nascido na busca insistente pelo seio da mãe , quem num fio de voz diz: “Tu vai te chamar José. José, como o pai de Jesus, e como ele , tu vai ser carpinteiro ”.
O inverno chegara mais cedo naquele ano . Zé se arrastou até as escadarias da igreja em busca de calor e de conforto para sua solidão , juntando-se a um grupo de meninos que ali se encontravam. A fome e o frio transpassavam seu pequeno corpo , dilacerando sua alma . A imagem de sua mãe e de seus irmãos lhe veio à mente , e ele chorou amargamente . Do alto da cripta da igreja , a imagem da Virgem parecia olhar para ele , que desejou aconchegar-se em seus braços , como o fizera algumas vezes com sua mãe . Agarrou-se a seu pedaço de flanela , mas não sentiu vontade de cheirá-lo. Seus olhos se fixaram na imagem da santa , até perder a noção do tempo . Um estrondo seguido de um clarão na forma de espada penetrou em suas entranhas fazendo seu pequeno corpo rodopiar no ar . Um filete de sangue escorreu pelo canto de sua boca , e seus olhos incrivelmente arregalados, num misto de êxtase e encanto não acreditavam no que viam. Ao seu lado , estava a senhora envolta em seu manto de luz , que o envolvia num longo abraço .
Jandira Weber
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