sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Encruzilhada do Sul


        Um lugar no meio do nada, onde até nossos pensamentos fazem eco, onde o tempo anda devagar como o rodar de uma carroça de bois, onde as galinhas soltas ciscam para encontrar seu próprio alimento, e as angolistas insistem que "estão fracas... estão fracas"...

    Uma revoada de quero-queros engrossa o coro, mas não explicam o que realmente querem.
Roupas estendidas ao sol, no cercado perto da estrada.

Você pode sentar ao sol, em bancos de madeira, embaixo das bergamoteiras e chupar suas frutas, colhidas direto do pé, cuidando para apanhar as mais de cima, que pegam mais sol e por isso ficam mais doces.

Dona Ziza levanta cedo e faz fogo no fogão a lenha, enche as chaleiras para esquentar a água para o chimarrão, enquanto amarra a vassoura de guanxuma e começa varrer o galpão e o terreiro.

Dona Ziza não precisa ir ao armazém, pois tem em seu quintal tudo o que precisa. Sua rotina é marcada pelo "arrancar" do aipim, recolher os ovos para fazer a massa caseira, matar uma galinha caipira para fazer um molho, lembrando de deixá-la pendurada um pouco com o pescoço para baixo, para este encher-se de sangue. Reforça o almoço com uma mistura de jacu com canjica.

Seu Mário corta a lenha para o fogo, dá uma “campereada” a cavalo para conferir como está o gado e aparta um novilho que será "carneado" para a festa de comemoração de seus setenta anos. Os amigos chegam de longe, a pé, de moto, de carro, ou a cavalo, já um dia antes para ajudar na “carneança”, afiam as facas na pedra, cortam taquaras para montar a barraca, fazem mais alguns bancos de madeira, cortam varas para espetar a carne que será assada na vala atrás do galpão.

Acampam aqui e ali, dormindo meio amontoados, uns se cobrem com o pala, outros com cobertores e bacheiros, uns dormem em camas, outros em tarimbas, pois assim é uma festa no campo, onde o que importa é a reunião de amigos.

Na hora de matar o boizinho, que será o churrasco da festa, não pode faltar a pinga, com limão e mel ou mesmo purinha, para limpar o pó da goela. Para quem não bebe, serve-se o bom chimarrão, intercalado com o caldo de algumas bergamotas.

Depois do almoço, é hora da sesta, um intervalo de repouso, pois a tarde e a noite vão ser longas, entre “causos” e cantorias, animados pelo violão e a gaita dos campeiros reunidos ao redor do fogo de chão.

Aida Pietzarka
Imagem: Google


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