Um lugar no meio do nada, onde até
nossos pensamentos fazem eco, onde o tempo anda devagar como o rodar de uma
carroça de bois, onde as galinhas soltas ciscam para encontrar seu próprio
alimento, e as angolistas insistem que "estão fracas... estão
fracas"...
Uma revoada de quero-queros engrossa o coro,
mas não explicam o que realmente querem.
Roupas estendidas ao sol, no cercado perto da estrada.
Você pode sentar ao sol, em bancos de madeira, embaixo das bergamoteiras
e chupar suas frutas, colhidas direto do pé, cuidando para apanhar as mais de
cima, que pegam mais sol e por isso ficam mais doces.
Dona Ziza levanta cedo e faz fogo no fogão a lenha, enche as chaleiras
para esquentar a água para o chimarrão, enquanto amarra a vassoura de guanxuma
e começa varrer o galpão e o terreiro.
Dona Ziza não precisa ir ao armazém, pois tem em seu quintal tudo o que
precisa. Sua rotina é marcada pelo "arrancar" do aipim, recolher os
ovos para fazer a massa caseira, matar uma galinha caipira para fazer um molho,
lembrando de deixá-la pendurada um pouco com o pescoço para baixo, para este
encher-se de sangue. Reforça o almoço com uma mistura de jacu com canjica.
Seu Mário corta a lenha para o fogo, dá uma “campereada” a cavalo para
conferir como está o gado e aparta um novilho que será "carneado"
para a festa de comemoração de seus setenta anos. Os amigos chegam de longe, a
pé, de moto, de carro, ou a cavalo, já um dia antes para ajudar na “carneança”,
afiam as facas na pedra, cortam taquaras para montar a barraca, fazem mais
alguns bancos de madeira, cortam varas para espetar a carne que será assada na
vala atrás do galpão.
Acampam aqui e ali, dormindo meio amontoados, uns se cobrem com o pala,
outros com cobertores e bacheiros, uns dormem em camas, outros em tarimbas,
pois assim é uma festa no campo, onde o que importa é a reunião de amigos.
Na hora de matar o boizinho, que será o churrasco da festa, não pode
faltar a pinga, com limão e mel ou mesmo purinha, para limpar o pó da goela.
Para quem não bebe, serve-se o bom chimarrão, intercalado com o caldo de
algumas bergamotas.
Depois do almoço, é hora da sesta, um intervalo de repouso, pois a tarde
e a noite vão ser longas, entre “causos” e cantorias, animados pelo violão e a
gaita dos campeiros reunidos ao redor do fogo de chão.
Aida Pietzarka
Imagem: Google