Já se passavam quase vinte anos quando Sabrina voltou
para rever a casa onde nascera. Ao avistar a velha casa, o coração dela
disparou. Diminuiu a velocidade do carro, para que nada passasse despercebido.
Estacionou em frente à casa, desligou o carro e o celular.
A casa com porta e janelas fechadas, e um silêncio
total.
O velho telhado estava tomado por cipó rasteiro,
talvez um pássaro tenha deixado semente por ali.
Antes de entrar na abandonada casa, Sabrina ficou relembrando
sua infância e adolescência ali vivida.
Lembrou -se dos tempos em que brincava e corria
naquele imenso pátio gramado, um pedaço de chão abençoado por Deus, em
companhia dos seus irmãos maiores.
Lembrou-se das tantas árvores frutíferas, algumas ainda
estavam lá e alimentavam os pássaros. Dos coqueiros e da figueira onde o gado
descansava em dias ensolarados.
Lembrou-se das dezenas de pássaros quero-queros, que
ali habitavam, disputando espaço com os gansos, que eram a paixão de seus pais.
Do cavalo de montaria, outra das paixões de seu pai. Do cachorro que disputava
a bola com seus irmãos.
Os degraus da porta da sala traziam fortes lembranças
do colo do avô, dos carinhos, e a lembrança dos olhares, que dali vigiava com
cuidados ao ver Sabrina correr e brincar.
Lembrou-se quando deixou aquela casa para se casar
deixando muitas saudades.
Eram muitas lembranças que ainda ficavam marcadas,
junto a tantas saudades.
Já passava do meio dia, e o sol de inverno aquecia
bastante, e Sabrina resolveu entrar na casa. Tudo era silêncio, ninguém
respondeu seu chamado. Mas, de repente, seu avô descansava no quarto e
levantou-se. Calçando e arrastando o chinelo atravessou a cozinha, trocou
algumas palavras com o filho, pai de Sabrina e foi para a varanda.
Sua mãe costurava um tecido na cor branca no quarto
dos fundos, na antiga máquina de costura tocada a manivela. As engrenagens da
máquina roíam. A cortina branca servia de porta, e a imagem da mãe não lhe era
nítida. O fogão à lenha continuava apagado, e uma vela acesa sobre o fogão
clareava a cozinha, e o reflexo iluminava o corredor da sala. Alguns móveis e
louças antigas da casa mostravam por muitos tempos não serem usados. As paredes
eram nuas na sala, como em outros cômodos da casa. No quarto do casal, havia na
parede uma foto de casamento de seus pais, que talvez não tenha interessado a
nenhum dos filhos. Na área dos fundos, algumas ferramentas de seu pai, algumas
ainda eram de seu avô, corroídas pelo tempo.
Sabrina foi rever o passado, retomar lembranças, entre
as quais a morte de seu avô e de seus pais.
A casa estava vazia, mas as pessoas que lá encontrou
seriam os Espíritos dos entes queridos, fortes lembranças ou eternas saudades!
Carmen Gomes
Imagem: Google
Parabéns Carmen, descreve com ricos detalhes o ambiente e as ações. Profundo.
ResponderExcluir