Lá vai a velha senhora, levando em seus ombros um saco com os poucos pertences que lhe restam, chamando a atenção por onde passa. Alguns olham com curiosidade, outros com compaixão. Mas a velha mendiga indiferente a tudo segue sua caminhada. Certa tarde, quando estava descansando em um banco da praça, uma pequena menina veio ao seu encontro, contrariando a mãe que aos gritos lhe dizia para não se aproximar da estranha. Indiferente aos apelos da mãe, a criança sentou- se ao lado da mendiga e perguntou:
- O que a senhora traz dentro deste saco?
A velha senhora fica a olhar para a menina, parecendo não tê-la ouvido. Um longo silêncio se seguiu, ao final do qual diz como se falasse consigo mesma:
- São lembranças, apenas lembranças de minha infância, passando a retirar delicadamente do interior do saco, o que restou dos brinquedos e das brincadeiras da sua infância.
Aos poucos, o banco vai sendo ocupado por bonecas sem cabeça, braços ou pernas. Peteca, pião, corda pula-pula, saco de riso, passador de cabelo. Um coelho de pelúcia, faltando uma orelha, um velho e surrado livro de Monteiro Lobato, e, por fim, um potinho vazio que a faz lembrar o doce cheiro de canela da casa de sua avó. A pequena menina está encantada com o que vê e pergunta se pode ficar com alguns brinquedos. Sem responder à pequena, a velha andarilha começa a colocar lentamente cada um dos brinquedos de volta no saco e, ao final diz:
- Minha pequena criança, estes brinquedos de nada te servirão. O valor de cada um deles está nas recordações dos dias de minha infância com os quais vivi e que guardo com muito carinho na minha lembrança, mas posso te dar um saco, para que um dia coloques também teus brinquedos e recordações, pois ao final é tudo que nos resta...
Jandira Teresinha Weber
Imagem: Google
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