Com que seriedade me encaram aqueles olhos verdes!
Com que profundidade parecem pesquisar nos meus se alcançam meus pensamentos e se a sintonia se estabelece com a mesma força que emana das palavras daquela boquinha doce.
É como se fosse a decisão de uma tomada de posição muito importante, muito séria, sem dúvida naquele momento.
- “ Vou ganhar presente do Dia da Criança?”
Que coração de avó não se agita com um questionamento tão sério?
Como dar uma solução satisfatória a este impasse, sem ferir tão belos sonhos ou tirar o brilho desse momento lindo da infância, onde essa mistura de ingênua expectativa e a brejeirice da conquista disputam a atenção?
É encantador, quando se pergunta:
-Qual é tua sugestão para a Oma te dar de presente?
E aí vem mais um momento crítico, pois o objeto nomeado não faz parte do dia a dia das avós, pelo menos desta, que precisa, então, pedir maiores detalhes.
Prontamente se acha uma solução, bastando ter lápis e papel. As mãozinhas, mais hábeis do que se possa imaginar, passam a desenhar os referidos objetos de desejo e, quanto mais detalhes exigem, maior a concentração, expressa naquele rostinho rosado pela empolgação de não perder um detalhe sequer .
Pronto, surge a primeira figura e a devida explicação:
- Estás, vendo, Oma? É um coelhinho, uma pista e várias coisas que vêm junto para ele fazer uma corrida. E, presta atenção, que ele tem uma rodinha na pata traseira (devidamente identificada por uma seta e uma roda”grifada”, para não deixar dúvidas.)
Vendo a complexidade, a avó se permite a pergunta:
-Mas será muito caro?
Prontamente se encontra uma alternativa.
_ Oma, tem alguns que não têm pista.Custa barato, viu? Oh! Vou desenhar os outros dois pra ti. Espera, preciso virar o papel...Pronto! Este é um cachorro, todo branquinho, só tem uma mancha perto do olhinho, aqui, tá vendo? É meu favorito. Se não tiver dinheiro que chega no teu cofre pode ser um castor, com rabo lanudo.
E as mãozinhas continuam desenhando mais dois possíveis presentes, com muita habilidade e riqueza de detalhes, não dando oportunidade a erros de identificação.
- Mas se não puder ser um desses presentes, não irias gostar de outra coisa, doces, enfeites...
- Oma, não viu meus desenhos?
-Vi, sim!
- Então não deu pra ver que estou colecionando animais robóticos?
Diante de tanta lógica, é lógico comprar o cão “robótico, de rodinha” e mancha preta no olhinho!
E não diga que é coisa de avó, é pura lógica, afinal é Dia da Criança!
Renate Gigel
Imagem: Google
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