Eu passei muito tempo trançando minha colcha de retalhos,
mas, jamais dirias simplesmente olhando para minhas mãos.
Com tranças, cabelos e tecido torcido, emaranho fragmentos de mim mesma,
pedaços de outras pessoas.
Junto tranço mentiras, amor, e no fim, é difícil saber se algum deles me mantém mais quente do que os outros.
E, quando pronta, ergo a colcha apenas vulto e a observo entre os meus dedos.
Quando a afasto dos meus olhos parece mais azul ou com mais nós
do que eu lembrava ter.
Ao longe, ela sorri maliciosamente para mim e, às vezes, até parece um tanto amuada.
É quando me pergunto: é esta a minha colcha?
Tento não vê-la tão intensamente de uma só vez.
Viro-a rapidamente, e, por trás, ela chora como alguém quando perdido.
E, como todas as mentiras, amores e estórias, minha colcha é imperfeita.
Mas, eu poderia deitar-me sobre ela, dobrá-la na beira da minha cama
como enfeite em noites de fetiche e até usá-la como um abrigo em
noites frias e insípidas, cobrindo-me completamente como uma
tapeçaria de visões.
Jussara Petry
Imagem: Google
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