Luz-da-lua nasceu linda. Pretinha, rosto redondo, cabelos negros, olhos cor-de-ameixa preta, boca em forma de coração era a alegria dos pais. O choro parecia uma canção. Amaram-na. Festejaram a sua vinda.
Luz-da-lua cresceu cercada de carinhos. Aos sete anos, porém, seu pai morreu. Aos oito, a mãe casou-se novamente. Trabalhava muito. O padastro não trabalhava. Em casa, fumava, bebia, olhava num espelho e dizia a si mesmo:"Espelho, espelho meu, existe alguém mais atraente que eu?"
Uma noite em que a mãe estava no trabalho, o padrasto achegou-se à menina, acarinhou-a, deu-lhe beijos. Luz-da-lua não gostou, assustou-se e fugiu. Vagou na noite para bem longe, com medo de o padrasto encontrá-la. Pela manhã, viu um bando de meninos bem pequenos num grande pátio. Jogavam bola. Chegou até uma cerca e ficou a observá-los. Os menininhos viram-na. Um deles aproximou-se: "Oi, menina, está com fome?" "Não, estou com medo.""Medo do quê?" "Medo do meu padastro. Fugi de casa e temo que ele me encontre." "Entra! Vem! Aqui ele não te encontra". E abriu o portão. "Até que o monsenhor chegue, vais ficar conosco." Os menininhos foram muito gentis. Jogaram com ela. A bola corria de um a outro lado. Luz-da-lua sentia-se feliz.
Quando o monsenhor chegou, os meninos contaram-lhe o que acontecera com Luz-da-lua. O senhor saiu. Pegou um telefone. Depois de algum tempo, o padrasto apareceu. Luz-da-lua ficou apavorada. O monsenhor disse que só entregaria a menina à mãe. O padrasto saiu a toda com seu automóvel. Encontrou-se com um caminhão. O acidente mandou-o para o céu..
Luz-da-lua voltou para sua mãe e sempre curtiu a amizade dos menininhos.
Liti Belinha Rheinheimer
Imagem: Raiz do samba - WoordPress.com